29 fevereiro 2012

O mundo do espelho de Narciso é um desafio ao Homo sapiens?

          Na atualidade, onde imperam os rompimentos, os dissensos, a contrainformação cultural, é de causar surpresa, de imediato, que existam pessoas narcisistas. O que vejo é um inconformismo com o próprio corpo: fazem tatuagens, furam a pele com "piercings", tingem os cabelos com cores não naturais, como verde ou roxo. Os homens querem corpos esculpidos, como hércules modernos, neste mundo onde a força física é desqualificada para o trabalho. Se esta fosse realmente a valorização social requerida, a classe dos estivadores seria a mais valorizada. As mulheres tornam-se anoréxicas pela moda, que apresenta coleções que cabem em ninguém. As que não querem a magreza absurda, deformam-se com silicone. Bustos e nádegas são sempre questionados. Quase a totalidade das pessoas está insatisfeita com seu corpo, que não serve aos seus propósitos, que, na maioria das vezes, nem sabem quais são.
          Outro dia, ao chegar ao trabalho, o segurança questionou a fotografia aposta no crachá. Em tom jocoso, disse que a foto não era minha. Senti-me um Dorian Gray invertido. Eu envelheço, a imagem que me identifica, não.
          Raciocinando a respeito, concluí que sou um narcisista pós-moderno, porque minha representação continua bela ou, ao menos, mais jovem e eu a amo: não vou mudá-la. Preciso mudar é meu corpo. Tirar a barriga ou, no mínimo, diminuí-la. Usar lentes de contato. Vestir roupas dois números menores, para realçar a musculatura e não ter espelhos em casa, porque há um ditado grego que diz: - "Os espelhos são nossos maiores críticos." E os mais corretos.